segunda-feira, 11 de junho de 2012

BANCOS - Porque aumenta a rubrica Rendimentos de Serviços e Comissões

Porque é que nas demonstrações de resultados da banca, se nota uma tendência generalizada para o aumento da rubrica Rendimentos de Serviços e Comissões?
RESPOSTA:
(Por José Capitão Pardal)
Os resultados da banca são constituídos pela diferença entre os proveitos gerados e os custos suportados.
O Produto Bancário é constituído, muito sinteticamente, por um lado, pela Margem Financeira ou seja, a diferença entre os proveitos gerados pelos Juros obtidos com as Operações de crédito a clientes e os custos suportados com os Juros pagos pelos Depósitos de clientes, e por outro, pela Margem Complementar ou seja, os proveitos resultantes dos Serviços Prestados e das Comissões cobradas, às quais se adicionam os Resultados de Operações Financeiras.
Deduzindo ao Produto Bancário, os Custos Operativos obtemos o Resultado Bruto do banco.
Se ao Resultado Bruto retirarmos as Provisões obtemos o Resultado Antes de Impostos.
O actual contexto económico tem sido marcado:
- Pela crise financeira da Zona euro e implementação do programa de assistência financeira a Portugal;
- Pelo ajustamento da economia portuguesa, caracterizado pela redução do défice orçamental e desalavancagem gradual do sector privado, incluindo do sector financeiro;
- Pelo desenvolvimento do processo de desalavancagem financeira (reforço da captação de depósitos e redução da carteira de crédito), da banca portuguesa, com a imposição da redução do Rácio Crédito/Recursos para um máximo de 120%, até 2014 e em consequência, uma forte selectividade (abrandamento repentino) na concessão de crédito (com a correspondente redução da cobrança de comissões sobre empréstimos), o que tem causado enormes dificuldades no tecido empresarial;
- Pelos sucessivos “downgrade’s” dos ratings da República Portuguesa e dos principais bancos portugueses, com a consequente subida do custo de “funding”;
- Pela desvalorização continuada dos títulos transaccionados nas Bolsas mundiais, a que correspondeu, por parte dos bancos à necessidade de criação de provisões adequadas às carteiras constituídas;
- Pelo agravamento da crise da dívida soberana na Europa – Grécia, Portugal e Irlanda (com contágio à Espanha e à Itália e impacto noutros países como a França, Bélgica, Áustria e Holanda).
- Pela elevada exposição da banca portuguesa à dívida grega e à correspondente necessidade do reforço das provisões;
- No contexto do Programa de Assistência Financeira a Portugal (no qual ficou estabelecido o reforço dos níveis de capitalização do sistema bancário português), pelo estabelecimento pelo Banco de Portugal de um rácio de solvabilidade (Core Tier I) a apresentar pelos bancos até Dezembro de 2011, não inferior a 9% e até Dezembro de 2012 não inferior a 10%.
 - Pelas elevadas taxas de desemprego e precariedade do emprego, com as correspondentes dificuldades nas famílias e nas empresas, que conduziram ao aumento do crédito vencido e à necessidade do reforço das provisões para imparidade nas carteiras de crédito dos bancos;
- Por uma forte volatilidade do Euro contra as principais moedas;
- Pelo abrandamento da actividade económica, no nosso país (e em vários dos nossos parceiros tradicionais), em especial no consumo privado e no consumo público, que contribuíram significativamente, para o fraco desempenho económico.
Apesar:
- Do crescimento generalizado das carteiras de depósitos de clientes, dos principais bancos portugueses;
- Do acréscimo da Margem Financeira, através do alargamento significativo dos spreads do crédito e do controlo rigoroso dos Custos Operativos (na maioria dos bancos);
- Da decisão do BCE em, reduzir a taxa de juro de referência e das medidas facilitadoras do acesso à liquidez por parte do sector bancário;
- Do bom desempenho e uma boa situação económica por parte da generalidade das empresas exportadoras (que a banca privilegia, até porque são de menor risco e fonte de elevado comissionamento).
Assistiu-se a uma forte diminuição da rendibilidade dos bancos, nomeadamente, pela redução da margens financeira e complementar, e ao aumento das provisões e imparidades associadas à carteira de crédito e à carteira da dívida soberana.
Como resposta, a banca sentiu a necessidade de fazer repercutir nos clientes o custo efectivo de todos os serviços (tendência que já se vinha verificando), aumentando o seu preço, bem como o das comissões para níveis “nunca vistos”, como forma de responder, ainda que parcialmente, à redução da actividade e consequente queda dos Resultados.
Isto levou a um acréscimo generalizado da rubrica “Rendimentos de Serviços e Comissões”, nas contas dos principais bancos, só interrompido, no ano de 2011, ano em que, a maioria dos bancos, não conseguiu compensar a perda de actividade de comissionamento, pelo aumento dos preços dos serviços e das comissões.
Propósito que se manterá enquanto o contexto económico subsistir ou sejam tomadas, pelo Banco de Portugal, medidas reguladoras de contenção da tendência.

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